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Espaço Cultural Bergson Gurjão será inaugurado com exposição sobre o movimento estudantil, que ganha seminário na Reitoria

A data não foi escolhida por acaso. No próximo dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Universidade Federal do Ceará (UFC) realiza, a partir das 17h, na Reitoria, a abertura do evento Sementes de Lutas, que envolve seminário, exposição e outras atividades. A programação integra as comemorações dos 70 anos da UFC, segue até 13 de dezembro e inclui a abertura da exposição Sementes de lutas: aqui está presente o movimento estudantil!, que marca a inauguração do Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias.

Também são destaques da programação o lançamento do livro José Genoíno, uma vida entrevista, de Salvio Kotter e Nicodemos Sena, com presença do político brasileiro José Genoíno, e a participação de nomes como a deputada federal Luizianne Lins; o músico e arquiteto Fausto Nilo; a atriz, bailarina, diretora e produtora Ecila Meneses; e a secretária da Cultura do Ceará, Luisa Cela.

Todas as atividades têm acesso gratuito e aberto ao público e acontecem na Reitoria, divididas entre o auditório Antônio Martins Filho, os Jardins da Reitoria e o Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias. 

Imagem: um mural artístico em uma parede com diversos elementos visuais e mensagens. O fundo é composto por tijolos pintados, e sobre eles há imagens e textos em diferentes estilos artísticos. No centro, há a frase
Destaque da programação, a exposição conta com um mural pintado por alunos da UFC (Foto: Victor Braga/UFC)

O seminário foi organizado por uma comissão criada pelo reitor Custódio Almeida, com o objetivo de abordar a memória do movimento estudantil dentro das comemorações dos 70 anos da Universidade Federal do Ceará e promover reflexões sobre a importância, a história, a memória e os impactos do movimento estudantil em diferentes esferas da sociedade – ciência, cultura, política, entre outras.

“Esse seminário é para que todos percebam que o movimento estudantil faz parte da Universidade, faz parte da formação que se recebe aqui. É um movimento plural, de aprendizagem e engajamento político, e do qual muitos egressos da UFC participaram, passando a perceber melhor a sociedade e seus lugares de intervenção”, pontua Custódio Almeida.

EXPOSIÇÃO – Primeira atividade a ser realizada no novo Espaço Cultural Bergson Gurjão, a exposição Sementes de lutas: aqui está presente o movimento estudantil! busca resgatar e contar as histórias da atuação da militância estudantil na UFC desde a origem da Instituição, a partir de uma coleção de objetos, imagens e textos.

A iniciativa evidencia a contribuição do movimento estudantil sobretudo para a promoção dos direitos sociais, a ampliação do acesso aos serviços públicos, a efetivação da emancipação humana e para a formação de profissionais comprometidos com o desenvolvimento da sociedade.

Um dos primeiros desafios foi desenhar uma cronologia, a partir de pesquisas realizadas em livros, artigos, teses, dissertações, matérias de jornais e outras publicações. Como em um quebra-cabeças, foi preciso não apenas localizar no espaço e no tempo as informações trazidas por esses conteúdos, mas também como elas se entrelaçavam, na tentativa de construir uma linha cronológica e uma narrativa histórica do movimento.

Imagem: uma exposição visual com fotografias organizadas em quatro colunas verticais. Cada coluna contém imagens em preto e branco e coloridas, retratando manifestações, protestos e eventos sociais. No centro do painel de fundo branco, há linhas coloridas que irradiam para fora, em tons de azul, vermelho e dourado, criando uma composição dinâmica que conecta visualmente as colunas. As fotos mostram cenas de luta por direitos, participação popular e momentos históricos
Além de comporem a exposição, as fotos, vídeos, documentos e publicações coletados na pesquisa também serviram para a recriação de ambientes relacionados à história do movimento estudantil no Ceará (Foto: Viktor Braga/UFC)

A partir dessa construção, a equipe de curadoria buscou outros registros para, junto dessas publicações, compor a materialidade da exposição. Fotos, vídeos, documentos e objetos foram coletados em diferentes fontes, entre arquivos oficiais e ex-estudantes militantes.

“Conseguimos coletar muitos documentos. Alguns vieram do NUDOC/UFC (Núcleo de Documentação e Laboratório de Pesquisa Histórica do Departamento de História da UFC); outros foram consultados na Biblioteca Pública ou enviados por pessoas. Teremos também projeções de fotografias de várias décadas e de filmes que abordam a temática”, adianta a jornalista e produtora cultural Dora Freitas, integrante da equipe. “Todo esse material estará lá, junto às publicações que embasaram a pesquisa e que, inclusive, poderão ser consultadas no local”, complementa.

Já entre os objetos constam faixas de rua, bandeiras, megafones, carteiras de estudantes e até a urna em que foram feitas várias eleições das diretorias do DCE. “Também levamos as carteiras de sala de aula usadas em manifestações na avenida da Universidade. Nós reproduzimos, ainda, um ambiente com máquina de escrever, com escrivaninhas da década de 1960, tentando trazer uma referência desse momento, que foi tão difícil, da repressão da ditadura militar”, explica Dora.

As reproduções de ambientes e cenários foram feitas a partir de fotografias encontradas durante as pesquisas. “Reconstituímos, por exemplo, uma parede de cartazes da sede do DCE”, conta Dora. Um dos ambientes abrigará um mural pintado por estudantes da UFC, com personagens relacionados à militância. Após a inauguração, a exposição fica em cartaz até março de 2025.

HOMENAGEM – Aprovado pelo Conselho Universitário (CONSUNI) em 18 de novembro, o nome Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias é uma homenagem póstuma ao ex-estudante da UFC perseguido e morto pela ditadura militar brasileira. Sua história simboliza a virulência e o autoritarismo da ditadura militar: Bergson Gurjão era aluno do curso de Química da UFC de 1967 a 1969, quando foi expulso por ordem da ditadura, por sua atuação no movimento estudantil da época.

Para seguir na luta pela redemocratização do País, ele entrou na clandestinidade e acabou sendo morto violentamente por militares na região do Araguaia em 1972. Os restos mortais de Bergson só foram entregues à família e velados em 2009.

O novo espaço cultural materializa um compromisso assumido desde o início pela nova gestão da UFC: o de ampliar o funcionamento essencialmente administrativo do prédio da Reitoria, tornando-o também um local para atividades e projetos culturais e artísticos, aberto à comunidade e em constante diálogo com a sociedade. Para isso, algumas unidades administrativas foram realocadas, de maneira a disponibilizar salas para a construção do novo equipamento.

Imagem: uma parede com a inscrição
A exposição Sementes de Lutas é a primeira atividade realizada no novo Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias, cujo nome é uma homenagem póstuma ao estudante da UFC morto pela ditadura (Foto: Viktor Braga/UFC)

Antes do descerramento da placa, que marca a inauguração, haverá a leitura e a entrega do Termo de Reconciliação Histórica a ex-militantes do movimento estudantil na UFC que foram perseguidos de alguma forma pela ditadura militar, com processos, impedimentos de matrícula, suspensões, prisões, torturas, assassinato e desaparecimento.

Segundo o termo, aprovado pelo CONSUNI em 1º de novembro de 2024, “somente da UFC, foram dezenas de estudantes punidos em inquéritos, processos e julgamentos, que muitas vezes ocorreram de forma sumária e à revelia”.

Por meio desse gesto, a UFC “atualiza e restabelece a compreensão do seu passado recente, sem buscar apagá-lo, mas registrando na sua história institucional essa reconciliação histórica para que não se esqueça nem nunca mais aconteça um regime ditatorial em nosso País”.

LIVROS – Antes da abertura da exposição, nos Jardins da Reitoria, acontece o lançamento do livro Tempos de “nunca-mais”: as graves violações dos direitos humanos nas universidades públicas do Ceará – 1964-1985 (Imprensa Universitária, 2024), coordenado por César Barreira, professor do departamento de Ciências Sociais da UFC, junto aos também organizadores Helena Serra Azul Monteiro, Geovani Jacó de Freitas, Virgínia Bentes Pinto, José Eudes Baima Bezerra e Maria Glaucíria Mota Brasil.

Na ocasião do lançamento, será realizada uma mesa com participação do político José Genoíno; do professor César Barreira; do presidente da Comissão de Direitos Humanos da UFC, Rafael dos Santos da Silva; e do reitor da UFC, Custódio Almeida.

No encontro, os participantes conversarão sobre a sucessão de violências aos direitos humanos promovida pelo regime militar no País, a exemplo daqueles relatados em Tempos de “nunca-mais”, e de que maneira os crimes, as perseguições e as censuras cometidas no período ainda hoje impactam a realidade social brasileira. Tendo sido ele próprio um militante contra a ditadura, perseguido, preso, torturado e obrigado a cair na clandestinidade, José Genoíno deve trazer ao debate muito de sua própria experiência.

Baseada no relatório da Comissão da Verdade UFC e UECE, elaborado em 2014 e enviado no mesmo ano para a Comissão Nacional da Verdade, Tempo de “nunca-mais” reúne 28 depoimentos de vítimas da ditadura que sofreram graves violações dos direitos humanos durante o regime militar, além de informações retiradas de documentos oficiais dos órgãos de segurança nacional.

IMagem: um homem de cabelos grisalhos e lisos, óculos e terno escuro aparece segurando um microfone, em um ambiente que se assemelha a um auditório
Professor do departamento de Ciências Sociais da UFC, César Barreira coordenou um dos livros a serem lançados na programação. A obra foi baseada no relatório da Comissão da Verdade UFC e UECE (Foto: Viktor Barreira/UFC)

Outros dois livros também serão lançados durante o seminário, na quinta-feira (12), a partir das 17h: José Genoíno, uma vida entrevista, de Salvio Kotter e Nicodemos Sena, e Parangaba – memórias de um combatente, de Carlos Cardoso, com a presença dos dois biografados.

Resultado de uma conversa que se estendeu por três dias entre autores e biografado, o livro sobre Genoíno narra a trajetória do político brasileiro, desde sua formação política e religiosa no sertão cearense, passando pela resistência à ditadura militar (1964-1985), com a formação da Guerrilha do Araguaia, até o enfrentamento dos processos relativos ao Mensalão. A obra foi publicada a partir da parceria entre as duas editoras fundadas pelos escritores, a Kotter e Letra Selvagem.

Imagem: capa de livro mostra a foto em preto e branco de Jose Genoíno quando jovem. Abaixo da foto aparece o título do livro: José Genoíno Uma Vida Entrevista
Capa do livro José Genoíno, uma vida entrevista, que será lançado no dia 12 (quinta), com a presença do biografado

Já Parangaba – memórias de um combatente resgata a trajetória do cearense Carlos Augusto Lima Paz, engenheiro agrônomo, gestor e ex-integrante do Movimento Estudantil no Estado. O apelido Parangaba surgiu ainda na época das aulas do Liceu, onde ele, com 14 anos, já ensaiava pequenos atos de revolução.

Desde então, o espírito combativo nunca arrefeceu. No início dos anos 1960, exerceu forte liderança no movimento estudantil, o que o levou à prisão em 1964, com a deflagração do golpe. Experimentou o exílio e a clandestinidade. De volta ao Brasil, sob identidade falsa, trabalhou na Comissão Estadual de Planejamento Agrícola (CEPA), no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e no Conselho Nacional dos Seringueiros, sempre guiado pelo compromisso com os mais injustiçados.

DEBATES – A partir da quarta-feira (11) até sexta (13), acontece o ciclo de debates do seminário. A mesa de abertura terá participação do reitor da UFC, Custódio Almeida; do pró-reitor de Assistência Estudantil da UFC, Bruno Rocha; das estudantes Marina Lopes e Dandahra Cavalcante, da diretoria do Diretório Central dos Estudantes da UFC; e mediada por Daniel Fonsêca, jornalista, coordenador de Articulação Política Institucional da UFC e ex-diretor do Diretório Acadêmico de Comunicação Social. O momento será voltado a falas institucionais.

Logo depois, às 9h, já tem início a segunda mesa, “Crise climática e seus desafios”, com participação de Artur Bruno, ex-diretor do Centro Acadêmico Clóvis Bevilaqua (curso de Direito) e ex-deputado federal pelo PT; Alexandre Costa, físico e professor da UECE; Assis Filho, engenheiro civil, ex-presidente do DCE, professor da UFC e cientista-chefe de Assuntos Hídricos do Governo do Ceará; e Fernanda Kamekrã, aluna da UFC. A mediação é de Sheila Nogueira, geógrafa e professora da Licenciatura em Educação do Campo da UFPI.

O ciclo de debates continua com duas mesas na quinta (12), sobre cultura e direito à cidade e sobre estratégias para o desenvolvimento do Ceará; e três mesas na sexta-feira (13), sobre a luta pela democracia no Brasil e sobre o movimento estudantil.

A mesa de encerramento terá participação do reitor da UFC, Custódio Almeida; do governador do Ceará, Elmano de Freitas; do ministro da Educação, Camilo Santana; e do senador Cid Gomes, todos ex-lideranças estudantis no Ceará.

Historicamente, o movimento estudantil sempre se pautou pelas grandes questões da humanidade. Suas manifestações sempre andaram juntas com as dos artistas, cientistas e políticos. A crítica ao negacionismo científico, à censura e a defesa da democracia sempre foram defendidas pelo movimento estudantil ao longo da história”, pontua Zakia Barroso, ex-presidenta do DCE da UFC, socióloga e coordenadora da comissão organizadora do evento.

Ponto fundamental de resistência ao regime militar, o movimento estudantil mantém esforços para que os horrores cometidos no período não sejam esquecidos – sendo esse um ponto-chave do seminário. “Há 60 anos, foi dado um golpe militar que matou, torturou, perseguiu e desapareceu com muitos brasileiros que lutaram por democracia e pelo direito de viver melhor. E, mesmo assim, boa parte da sociedade desacredita que houve ditadura, e até clama por ela de volta. Precisamos recuperar a história, a verdade e mostrar à população, lembrar para que não seja repetido”, finaliza Zakia.

SERVIÇO

Seminário Sementes de Lutas: o Movimento Estudantil na UFC
De 11 a 13 de dezembro, na Reitoria (avenida da Universidade, 2853, Benfica). Gratuito.

Exposição Sementes de Lutas: aqui está presente o movimento estudantil!
Abertura: 10/12 (terça-feira), às 17h, no Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias. Gratuito. Em cartaz até março de 2025 (horários de visitação a confirmar).

PROGRAMAÇÃO

Dia 10/12 (terça-feira)

A partir de 17h, na Reitoria

– Homenagem a Bergson Gurjão: descerramento da placa e inauguração do Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias
– Momento de Reconciliação Histórica com ex-estudantes da UFC perseguidos pela ditadura militar
– Lançamento do livro Tempos de “nunca-mais” (coordenado por César Barreira)
– Abertura da exposição Sementes de lutas: aqui está presente o movimento estudantil!

Dia 11/12 (quarta-feira)

8h30 – Abertura

– Momento cultural

– Mesa de abertura

 9h – Mesa “Crise climática e seus desafios”

14h30 – Mesa “Luta pelos direitos à saúde e educação”

Dia 12/12 (quinta-feira)

9h – Mesa “Cultura e direito à cidade”

14h30 – Mesa “Estratégias para o desenvolvimento do Ceará”

17h – Lançamento dos livros

Dia 13/12 (sexta-feira)

9h – Mesa “A luta pela democracia no Brasil”

14h – Mesa “Movimento estudantil, direitos humanos e a luta contra as opressões específicas”

16h – Encerramento: Mesa “Movimento estudantil”

Fonte: Coordenadoria de Articulação Política Institucional – fone: (85) 3366.7328

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